Balanço Político-Pedagógico da Rede Estadual de Ensino do Paraná (2019–2025): resultados, conflitos e sentidos da gestão Ratinho Jr.
Resumo
O presente artigo apresenta um balanço político-pedagógico da rede estadual de ensino do Paraná durante o governo Carlos Massa Ratinho Júnior, entre 2019 e 2025. A pesquisa articula análise empírica (dados públicos, indicadores educacionais, registros de conflitos e políticas implementadas) e abordagem teórico-crítica, na pedagogia crítica e em estudos sobre neoliberalismo educacional. O estudo demonstra que, embora haja avanços pontuais em indicadores agregados como o IDEB, o período é marcado por intensificação do trabalho docente, perda de autonomia pedagógica, precarização das condições de ensino e tentativas recorrentes de privatização da gestão escolar. Evidencia-se que o final do ano letivo de 2025 mostra um quadro de caos organizacional derivado da implementação do Programa "Se Liga!", imposto pela Seed-PR, que acentua a sobrecarga dos trabalhadores e visa inflar estatísticas de aprovação em detrimento da aprendizagem real. A análise conclui que as políticas adotadas configuram um projeto de desmonte da escola pública enquanto instituição democrática e popular, exigindo resistência organizada da comunidade escolar e reafirmação do papel social da escola, da centralidade do trabalho docente e do ensino das ciências.
Palavras-chave: Escola pública; Política educacional; Paraná; Neoliberalismo; Trabalho docente; Se Liga.
Introdução
O governo Ratinho Jr., no período de 2019-2025, consolidou no Paraná um conjunto de políticas educacionais orientadas pela lógica gerencialista, pela centralização burocrática e pela intensificação do trabalho pedagógico; acontecido sob o discurso da modernização, da melhoria dos índices e da eficiência administrativa, quando tais políticas coexistiram com cortes de direitos, tentativas de privatização, precarização das condições de trabalho e imposição verticalizada de programas pedagógicos, dentre eles se situa o “Se Liga”.
Neste artigo será analisado criticamente esse processo, articulando dados empíricos, acontecimentos políticos e marcos teóricos críticos; sendo que o ano de 2025 é emblemático, quando expõe, no encerramento do ano letivo, o colapso organizacional provocado pelo Programa "Se Liga!", que transforma a escola em espaço de pressão administrativa e de busca artificial por resultados estatísticos.
Por conseguinte, defende-se que o caso paranaense expressa uma tendência nacional de desmonte da escola pública, reforçando a necessidade de resistência e de reconstrução coletiva do projeto de Escola Popular.
Referencial Teórico Analítico
Neoliberalismo educacional e gerência empresarial
As políticas educacionais, implementadas no período, alinham-se ao paradigma neoliberal descrito por autores como Apple (2005) e Ball (2014), caracterizado pela responsabilização individual, meritocracia, privatização de funções públicas e adoção de mecanismos empresariais nas escolas.
Pedagogia crítica e emancipação
Com Freire (1987), nos fornece o marco para compreender a educação como prática de liberdade. Assim, a imposição de programas como o "Se Liga!" representa uma ruptura com o princípio da autonomia escolar e da construção coletiva do currículo.
Trabalho docente e precarização
Entende-se que a intensificação e a perda de controle sobre o processo de trabalho, fundamentados por Marx e aprofundadas nos estudos de Antunes (2009), permitem compreender o adoecimento e desgaste docente como expressão da lógica de exploração e de subsunção do trabalho escolar às metas administrativas.
Escola pública, democracia e autonomia
Busca-se nos autores como Paro (2011) e Cury (2007), que defendem a escola pública como instituição democrática, cujas práticas devem estar fundamentadas na participação coletiva, respeito ao trabalho docente e compromisso com a formação cidadã.
Metodologia da Pesquisa
Esta pesquisa adota a abordagem qualitativa e quantitativa combinada com:
análise de documentos oficiais da Seed-PR (2019–2025);
coleta de reportagens e dados públicos sobre conflitos, greves e consultas escolares;
análise de indicadores educacionais (IDEB, aprovação, abandono);
revisão teórica com base em autores críticos; e,
sistematização de relatos e posicionamentos de sindicatos e comunidades escolares.
Sendo que o seu objetivo é compreender a totalidade do processo político-pedagógico que conforma a comunidade escolar no período analisado, em termos de sua dominação e do seu controle burocrático.
Políticas Educacionais no Paraná (2019–2025)
Reestruturação administrativa e cortes iniciais
O início do governo Ratinho Jr. foi marcado por políticas de cortes de direitos dos servidores, reajustes insuficientes e tensões com o magistério, afetando o “clima” organizacional das escolas públicas.
Militarização e modelos autoritários de gestão
Mais ainda, com a ampliação de escolas cívico-militares e projetos correlatos, reforçaram as práticas disciplinadoras e de centralização nas Escolas, reduzindo a autonomia docente e interferindo na sua dinâmica pedagógica.
Privatizações das Escolas Públicas
O período registra diversas iniciativas de terceirização e PPPs (como o "Parceiro da Escola"), amplamente rejeitadas pela comunidade escolar, demonstrando resistência social às políticas privatistas, mas que foram impostas, de forma autoritária, pelo governo Ratinho Jr.
Investimentos e retórica de modernização
Embora o governo anuncie investimentos em infraestrutura e tecnologia, estes não compensam os impactos da precarização, nem são acompanhados de políticas estruturantes para valorização docente.
Resultados e Contradições
Indicadores educacionais
Os indicadores do IDEB apresentam “melhora” moderada em alguns ciclos, especialmente no Ensino Médio. No entanto, esses resultados não refletem a desigualdade entre escolas, nem o contexto de precarização do trabalho docente, que impactam diretamente na qualidade do ensino público.
Impactos pedagógicos
O currículo escolar tornou-se fragmentado quando passaram a responder prioritariamente às metas administrativas, impactando na relação pedagógica que foi submetida a prazos, metas e controles quantitativos.
Trabalho docente
A intensificação do trabalho e a perda de autonomia produziram desgaste generalizado, com relatos de exaustão, frustração profissional e adoecimento.
O Caos Político-Pedagógico no final de 2025: o Programa "Se Liga!"
O ápice da crise ocorre no encerramento do ano letivo de 2025, quando a Seed-PR impôs às escolas o Programa "Se Liga!", apresentado como ação de intensificação da aprendizagem, mas implementado de forma improvisada, autoritária e desconectada das necessidades reais da comunidade escolar.
Imposição e verticalização
O programa desconsidera o planejamento anual, o PPP e a autonomia docente. Por isso, as escolas foram obrigadas a reorganizar rotinas, avaliações e tempos de trabalho, gerando desorientação e sobrecarga aos trabalhadores e profissionais da comunidade escolar.
A lógica da aprovação estatística
O objetivo central desse “Programa” é o de elevar artificialmente os índices de aprovação, produzindo dados “positivos” para o governo, ainda que os estudantes não tenham se apropriado dos conhecimentos essenciais.
Consequências para os trabalhadores
As evidências são de que professores e equipes pedagógicas relatam cansaço extremo, adoecimento e desmotivação; além da ausência de diálogo e o desrespeito ao trabalho, revelando um quadro de violência simbólica institucional.
Impactos na comunidade escolar
Importante destacar que o programa cria confusão, reduz o sentido formativo da avaliação e agride a função social da escola como espaço de construção do saber.
Discussão: sobre o Projeto de Desmonte da Escola Pública
Afirma-se que as políticas implantadas pelo governo Ratinho Jr., analisadas entre os períodos de 2019 e 2025, culminando no caos de 2025, revelam um projeto de Estado voltado ao enfraquecimento da Escola Pública, que levam:
ao cerceamento da autonomia pedagógica,
à precarização do trabalho docente,
ao sucateamento estrutural,
ao autoritarismo burocrático,
ao desmonte curricular,
aos mecanismos de privatização indireta.
Por conseguinte, esse projeto contrasta radicalmente com a concepção de Escola Popular, democrática e comprometida com a formação emancipadora.
Dados Empíricos Adicionais
Os levantamentos realizados nas escolas estaduais do Paraná, no final do ano letivo de 2025, evidenciam que:
78% dos docentes relataram aumento significativo de carga de trabalho após a imposição do Programa "Se Liga".
64% afirmaram que o programa interferiu diretamente na autonomia pedagógica, sobretudo na condução das avaliações e no planejamento de aula.
Em 52% das escolas visitadas, houve relatos de improviso na implementação, ausência de formação adequada e pressão das chefias para cumprimento de metas.
71% das equipes pedagógicas afirmaram que o foco principal do Programa era "a aprovação", e não a aprendizagem, comprometendo o desenvolvimento científico dos estudantes.
Em 43% das escolas, houve conflitos internos devido à cobrança excessiva por resultados estatísticos.
59% dos docentes declararam sentir-se emocionalmente desgastados, sobrecarregados e sem respaldo institucional.
Dados esses que foram obtidos por meio de entrevistas, questionários e observação participante em 17 escolas estaduais distribuídas nas regiões Norte, Noroeste, Sudoeste e Metropolitana de Curitiba.
Conclusão
Por fim, o balanço político-pedagógico do período evidencia um conjunto de políticas que, embora apresentem ganhos superficiais em índices agregados, aprofundam desigualdades, fragilizam o trabalho docente e desestruturam a vida escolar. O caso do Programa "Se Liga!" simboliza esse processo: trata-se de uma política impositiva que mascara problemas estruturais e viola princípios pedagógicos fundamentais.
Portanto, ao defender a Escola Pública Popular, implica defender sua autonomia, seus trabalhadores, seu projeto pedagógico e sua função social.
Assim, somente com a participação coletiva, valorização docente e compromisso com o ensino das ciências será possível reconstruir um projeto de Escola Popular para o Paraná.
Referência Bibliográfica
APPLE, Michael. Ideologia e currículo. Porto Alegre: Artmed, 2005.
______. Educação e poder. Porto Alegre: Artes Médicas, 2006.
ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho. São Paulo: Boitempo, 2009.
BALL, Stephen J. Educação global S.A. Porto Alegre: Penso, 2014.
BOURDIEU, Pierre; PASSERON, Jean-Claude. A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1975.
CURY, Carlos Roberto Jamil. Educação e direito à educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
PARO, Vitor Henrique. Gestão democrática da educação. São Paulo: Cortez, 2011.
*(Professor de Filosofia da Rede Pública Estadual - Pr)
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