A Conjuntura Política do Paraná para as Eleições de 2026: Uma Análise Crítica
*Luiz Antonio Sypriano
Resumo:
Este artigo analisa a conjuntura política do Paraná para as eleições de 2026 sob a perspectiva da epistemologia marxista, examinando as tensões entre os blocos burgueses, as transformações na extrema direita, o reposicionamento da centro-esquerda institucional e os desafios estratégicos postos para a esquerda socialista independente. Partindo da crítica marxista ao Estado e à democracia burguesa, discute-se a disputa pela hegemonia na consciência da classe trabalhadora, cuja direção permanece compartilhada entre aparelhos ideológicos do capital, partidos progressistas governistas e setores da extrema direita. O estudo identifica as contradições do cenário paranaense — como a fragmentação do bloco de poder ligado a Ratinho Jr. e o fortalecimento eleitoral de Requião Filho — e problematiza as táticas eleitorais da esquerda socialista, defendendo a necessidade de uma intervenção dialética no processo eleitoral, sem cair no oportunismo nem no sectarismo. Conclui-se que a construção de uma política socialista revolucionária exige combinar luta institucional e extra-institucional, articulando um programa anticapitalista capaz de transformar reivindicações imediatas — sobretudo no setor educacional — em estratégias de ruptura com a ordem burguesa.
Palavras-chave: marxismo; eleições 2026; Paraná; hegemonia; democracia burguesa; luta de classes.
Introdução
A disputa eleitoral representa, para a tradição marxista, um momento particular da luta de classes, no qual diferentes frações da burguesia e dos setores das classes populares empobrecidas e trabalhadora, buscam dirigir o Estado — entendido como “comitê para gerir os negócios comuns de toda a burguesia” (MARX; ENGELS, 2010).
No Paraná, a preparação para as eleições de 2026 ocorre em meio à crise hegemônica da extrema direita, ao reposicionamento da centro-esquerda e à fragmentação das forças socialistas independentes. Este artigo examina essa conjuntura a partir da epistemologia marxista, entendida como método crítico para revelar as determinações materiais que estruturam o processo eleitoral e as formas ideológicas que tentam ocultá-las.
A análise parte da compreensão de que a classe trabalhadora paranaense — especialmente sua fração mais organizada, os trabalhadores da educação — encontra-se submetida a uma dupla hegemonia: de um lado, partidos governistas como PT, PDT e PSB; de outro, a extrema direita vinculada a Ratinho Jr., Sérgio Moro e Cristina Graeml.
Por conseguinte, essa disputa eleitoral torna-se um espaço estratégico para a esquerda socialista revolucionária, que deve intervir criticamente, sem aderir aos projetos burgueses, nem se isolar em práticas propagandistas abstratas.
Referencial Teórico:
A Epistemologia Marxista e o Problema do Estado
A epistemologia marxista compreende a política como expressão das relações materiais de exploração e dominação. Assim, a eleição não é um fenômeno autônomo ou puramente institucional, mas uma forma específica de reprodução do poder burguês através de consensos, coerções e aparelhos ideológicos (ALTHUSSER, 1985).
Para Marx (2011), a democracia representativa é uma mediação da luta de classes que preserva a estrutura econômica capitalista, ao passo que Gramsci (2000) demonstra que a disputa pela hegemonia exige a construção de direção moral, intelectual e política sobre as massas. Por isso que a intervenção eleitoral pode servir tanto para consolidar o domínio burguês quanto para ampliar a consciência socialista.
Nesse sentido, essa abordagem permitirá analisar o cenário paranaense de 2026 como expressão das lutas entre frações burguesas e da disputa pela consciência da classe trabalhadora.
A Conjuntura Política do Paraná em 2026
Fragmentação da extrema direita e a crise de hegemonia
A hegemonia construída por Ratinho Jr. ao longo dos últimos anos apresenta sinais de desgaste. Sua incapacidade de projeção nacional e a fragilidade de sucessores como Guto Silva e Alexandre Cury abrem espaço para novas tensões dentro do campo conservador. Sérgio Moro, apesar de instável, emerge como figura influente entre os setores mais reacionários, competindo com grupos tradicionais como a família Barros e Cida Borghetti.
Simultaneamente, o bolsonarismo paranaense mantém presença significativa por meio de lideranças como Cristina Graeml, alimentando um campo político que combina conservadorismo moral, autoritarismo punitivista e ultraliberalismo econômico.
Consolidação do campo governista em torno de Requião Filho
No polo da centro-esquerda, a candidatura de Requião Filho (PDT) ganha força em razão tanto da crise da extrema direita quanto do apoio de Lula e Gleisi Hoffmann. Este apoio configura o que a tradição marxista denomina “governo burguês atípico”: uma coalizão progressista que, embora represente interesses sociais distintos, mantém a lógica capitalista de gestão estatal.
Partidos como PT, PCdoB e PSOL — incluindo sua ala à esquerda — convergem para esse projeto, reduzindo sua independência política e reforçando a crítica marxista sobre o fenômeno de adaptação ao Estado burguês.
A esquerda socialista independente: limites e possibilidades
A esquerda socialista paranaense — MFSR, PSTU, PCB, UP, PCBR, PCO entre outros — enfrenta o desafio de intervir no processo eleitoral sem se afastar da classe trabalhadora real, que hoje se orienta majoritariamente pelos polos Requião Filho e extrema direita, quando duas armadilhas aparecem:
a) oportunismo: adesão ao projeto burguês de Requião Filho;
b) sectarismo: lançamento de candidaturas meramente testemunhais ("laranjas", fictícias ou simbólicas), incapazes de dialogar com a consciência concreta das massas.
A proposta debatida por setores socialistas — inclusive no âmbito do MFSR Paraná — de solicitar concessão de legenda democrática em partidos não integrados a governos burgueses (como PSTU, PCB ou UP) visa a construir uma candidatura capaz de sintetizar lutas reais, sobretudo no campo educacional, que venha a expor a sua ideologia e o pensamento crítico, que dialogue com a classe trabalhadora em geral.
A Questão da Educação:
O setor mais explorado do Paraná
A educação paranaense sofre um processo de precarização vinculado ao capitalismo rentista e às políticas de austeridade aplicadas nos últimos oito anos, que resultaram em perdas salariais superiores a 50% para docentes e funcionários. Isto posto, o não pagamento dessas perdas, que somam mais de R$ 13 bilhões, evidencia o caráter de classe do Estado paranaense, orientado pelos interesses do capital financeiro e das oligarquias locais.
Do ponto de vista marxista, a luta dos educadores pode tornar-se a base de um programa anticapitalista capaz de unificar reivindicações imediatas e tarefas estratégicas, como:
recuperação salarial integral;
imposto progressivo sobre grandes fortunas;
moratória da dívida pública estadual;
combate à terceirização e à militarização escolar;
reforma agrária agroecológica;
políticas para juventude trabalhadora e desempregada.
Considerações Finais
A análise da conjuntura política do Paraná revela um cenário marcado por instabilidade no bloco de poder conservador, fortalecimento de uma frente progressista de caráter burguês e fragmentação da esquerda socialista. À luz da epistemologia marxista, torna-se evidente que o processo eleitoral não pode ser compreendido isoladamente, mas como parte da luta de classes e da disputa pela hegemonia entre as frações sociais.
Para a esquerda socialista revolucionária, o desafio estratégico é atuar de forma dialética: disputar a consciência da classe trabalhadora sem capitular ao projeto burguês e sem se isolar em discursos desconectados da realidade popular. A intervenção eleitoral, amparada por um programa anticapitalista enraizado nas lutas concretas — especialmente da educação —, pode servir como instrumento de formação política e reorganização das forças revolucionárias no estado.
Referência Bibliográfica
ALTHUSSER, Louis. Aparelhos ideológicos de Estado. Rio de Janeiro: Graal, 1985.
GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Boitempo, 2010.
MARX, Karl. O 18 Brumário de Luís Bonaparte. São Paulo: Boitempo, 2011.
POULANTZAS, Nicos. Poder político e classes sociais. São Paulo: Martins Fontes, 1985.
*(Professor de Filosofia da Rede Pública Estadual - Pr)
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