O SENTIDO DA PALAVRA NA LINGUAGEM PARA WITTGENSTEIN
*Luiz Antonio Sypriano
“Os problemas filosóficos surgem quando a linguagem sai de férias.”
(Ludwig Wittgenstein)
Para o filósofo austríaco-britânico Ludwig Wittgenstein (1889-1951), o sentido de uma palavra reside no seu uso cultural, denominado-o de "jogo de linguagem".
Isto porque o filósofo rejeita a ideia de uma linguagem única e ou universal; por isso, propõe que a linguagem é composta por uma variedade de "jogos de linguagem", ou seja, as diversas atividades de uso da linguagem que realizamos no nosso cotidiano.
Explica ainda que o significado de uma palavra não é determinado por uma definição ou por uma relação fixa com o mundo, mas pela forma como ela é usada em diferentes contextos sociais e linguísticos de uma dada comunidade, quando esta demonstra a sua identidade cultural nelas, e nas diferentes formas de como as pessoas as usam para se comunicarem e interagirem.
Assim, em vez de uma única estrutura lógica subjacente (estrutura de pensamento que está por trás de algo, que a sustenta e explica como ele funciona), propõe que o significado das palavras é dado pelo seu uso em contextos específicos. E é neste contexto, ou "jogos de linguagem" que se realiza nele, que são gerados, desde atividades simples como pedir algo, até a complexidade de teorias científicas.
Assim, a chave para se entender o sentido de uma palavra é o de observar como ela é usada dentro de um jogo de linguagem específico; isto porque a sua significação não é inerente à própria palavra, e sim derivada do seu uso e das regras que governam o jogo de linguagem de uma determinada comunidade cultural.
Por isso Wittgenstein rejeita a ideia de que as palavras têm um significado intrínseco (uma "essência" ou um “objeto” além do mundo), independente do contexto de seu uso - diante do fato de que a visão tradicional associava o significado das palavras a algo exterior a ela.
Por conseguinte, sua Filosofia também critica a ideia de uma linguagem privada, na qual uma pessoa teria uma compreensão única e inefável (inexplicável) do mundo; é o que ele argumenta que o sentido da linguagem é sempre público e compartilhado dentro de uma comunidade de falantes, porque a linguagem é uma forma de vida social.
Por suposto, o significado de uma palavra é sempre dado pela sua utilidade e função em um determinado contexto; se uma palavra é usada de forma consistente em um jogo de linguagem, então ela tem um significado concreto e necessário dentro desse jogo.
Por exemplo, a palavra "vermelho" pode ter significados diferentes dependendo do jogo de linguagem em que é usada. Pode referir-se a uma cor, a um estado emocional (como estar vermelho de vergonha), ou mesmo a um conceito político (como "vermelhos" como comunistas).
Sendo assim, a linguagem não é uma ferramenta uniforme (única), mas sim um conjunto diversificado de atividades; como outros exemplos de jogos de linguagem, pode-se incluir os jogos de tabuleiro, preces religiosas, notícias de jornal, ou até mesmo a discussão filosófica; além do que - afirma o filósofo que dentro de cada jogo de linguagem as palavras podem ter diferentes significados e funções - a palavra "jogo", pode ter um significado específico no contexto de um “jogo de tabuleiro”, enquanto em Filosofia pode referir-se a um conceito mais amplo como a um “jogo de linguagem”.
Pelo exposto, conclui-se que o sentido de uma palavra não é fixo ou essencial, mas sim dinâmico e que depende do seu uso em diferentes contextos de linguagem e interação social.
(No que se refere ao conceito de "jogo de palavra" ou "jogo de linguagem" de Wittgenstein, ao mesmo tempo que faz a crítica à visão tradicional da linguagem, afirma que só se pode compreender o significado das palavras pelo seu uso em contextos específicos.)
Isto porque a linguagem, para o filósofo, não é simplesmente um sistema de símbolos que reflete uma realidade externa, mas é uma atividade social e prática; sendo assim, o uso dela está intrinsecamente ligado ao nosso comportamento e às nossas práticas sociais.
Que se sirva a educação escolar para qualificá-la como instrumento pedagógico a fim de promover a interação com a cultura escolar no sentido da transformação social.
*(Professor de Filosofia da Seed-Pr).
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