A Liberdade Humana entre Marx e a Liberal Clássica e a luta para a Emancipação Humana

A Liberdade Humana entre Marx e a Liberal Clássica e a luta para a Emancipação Humana

Luiz Antonio Sypriano*

    No Dicionário do pensamento marxista está presente uma das concepção da emancipação, predominante em nossa sociedade, a "de acordo com a perspectiva liberal clássica, [apontando que] a liberdade é a ausência de interferência ou, ainda mais especificamente, de coerção. Sou livre para fazer aquilo que os outros não me impedem de fazer." (Bottomore, 2023, p. 202).
    Em síntese, pode-se afirmar que a concepção liberal clássica aponta que "a liberdade é a ausência de restrições às opções disponíveis para os agentes". Somente isso! Nesse sentido "pode-se dizer que a tradição liberal tende a oferecer uma interpretação muito limitada sobre quais possam ser essas restrições (entendendo-as muitas vezes apenas como interferências deliberadas), sobre quais sejam as opções relevantes (restringindo-as frequentemente àquilo que os agentes na verdade concebem ou escolhem) e sobre quem são os próprios agentes (vistos como indivíduos isolados que perseguem seus fins concebidos independentemente, sobretudo no mercado)." (id., ibid.).
    Assim, a concepção liberal aponta que essa "liberdade" nada mais o é do que a ideologia do regime capitalista, cujo seu arcabouço é o jogo do "mercado".
    Por outro lado, "o marxismo é herdeiro de uma concepção mais rica e mais ampla de liberdade como autodeterminação que tem origem no pensamento de filósofos como Spinoza [1632-1677], Rousseau [1712-1778], Kant [1724-1804] e Hegel [1770-1831].", e, por conseguinte, "propõe noções mais amplas das restrições e opções relevantes bem como da ação humana." (id., ibid.)
    Assim posto, "Marx e os marxistas tendem a ver a liberdade em termos da eliminação dos obstáculos à emancipação humana.". Ou seja, obstáculos esses que impeçam "ao múltiplo desenvolvimento das possibilidades humanas e à criação de uma forma de associação digna da condição humana"; que, dentre eles, "destacam-se as condições do trabalho assalariado" (id., ibid.).
Assim, "como Marx escreveu em A ideologia alemã, “as condições de sua vida e trabalho, e, com elas, todas as condições de existência da sociedade moderna [- o modo de produção capitalista -], tornaram-se (…) algo sobre que os proletários individuais não têm controle e sobre que nenhuma organização social lhes pode proporcionar esse controle” (vol.I, IV, 6)." (id., ibid.)
    Ainda, segundo Marx, "para superar esses obstáculos é necessária uma tentativa coletiva". Daí que "a liberdade como autodeterminação é coletiva no sentido de que consiste na imposição, socialmente cooperativa e organizada, do controle humano tanto sobre a natureza como sobre as condições sociais de produção: 'o pleno desenvolvimento do domínio humano sobre as forças da natureza, bem como da própria natureza da humanidade' (Grundrisse, Caderno V, Ed. Penguin, p.488)". (id., ibid.)
    Mas, "tal domínio só se realizará completamente com a substituição do modo de produção capitalista por uma forma de associação", o Socialismo, na qual terá o trabalho como seu fundamento. Quando, "só então, 'dentro da comunidade terá cada indivíduo os meios de cultivar seus dotes e possibilidades em todos os sentidos' (A ideologia alemã, vol.I, IV, 6)." (id., ibid.)
    Para tanto, se faz necessário construir, de forma coletiva, essa nova sociedade que se baseia no trabalho. Isto posto, é previsível levantar a seguinte questão: "como seria essa forma de associação que compreende o controle coletivo, a associação ou comunidade, o desenvolvimento das múltiplas individualidades e a liberdade pessoal," (id., ibid.)
    Dela, só se tem uma única certeza, que é a de que será obra da própria classe trabalhadora. Esse intento só será possível com a supressão da ideologia liberal e a afirmação da teoria científica construída por Marx-Engel: materialismo histórico dialético.

NOTAS
*Graduado e Pós-Graduado em Filosofia e Educação.
Os destaques no Texto são do próprio autor.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BELTRAME, Matheus Maria. Sobre o conceito de emancipação humana em Karl Marx. Disponível em: <file:///C:/Users/Asus/Downloads/Dialnet-SobreOConceitoDeEmancipacaoHumanaEmKarlMarx-7024004.pdf>; Acesso em: ,18/11/2023>.

BOTTOMORE, Tom. Dicionário do Pensamento Marxista. Disponível em:<https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/7049739/mod_resource/content/1/Bottomore_dicion%C3%A1rio_pensamento_marxista.pdf>; Acesso: <18/11/2023>.

SILVA, Luiz Etevaldo. O sentido e significado sociológico de emancipação. Disponível em: <file:///C:/Users/Asus/Downloads/8924-Texto%20do%20artigo-44946-1-10-20140121%20(1).pdf>; Acesso em: <18/11/2023>.

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