O TRABALHO DOCENTE E O PARADOXO DA ESCOLA INCLUSIVA

 O TRABALHO DOCENTE E O PARADOXO DA ESCOLA INCLUSIVA

*Luiz Antonio Sypriano


"A inclusão acontece quando se aprende com as diferenças e não com as igualdades". (Paulo Freire)


As Escolas Públicas transformaram-se na “casa da mãe joana”, onde tudo pode, desde estudantes que nunca vieram para a Escola retornarem, sem nunca terem acesso ao conhecimento básico para se situar na etapa que irão ser inseridos, como a elevação deles de um patamar de fundamental para o médio, sem nem serem alfabetizados, além das exigências burocráticas para maquiar seus resultados, entre tantos outros, como também a excessiva cobranças burocráticas.

Portanto, as Escolas Públicas, diante de tantos desafios, estariam se tornando espaços desorganizados e sem critérios claros, especialmente no que diz respeito ao progresso dos alunos e à carga de trabalho dos professores.

Sendo a questão da inclusão de alunos com defasagem de aprendizagem um dos dilemas mais complexo para a Educação Escolar e suas políticas educacionais.

Isto porque, a progressão automática, ou a elevação de alunos para etapas seguintes sem a garantia de que dominam o conteúdo básico, é uma prática que visa evitar a evasão escolar, mas que muitas vezes compromete a qualidade do ensino e a formação efetiva dos estudantes.

O resultado é um aluno que chega ao ensino médio, ou até mesmo à universidade, sem a proficiência esperada em leitura, escrita e raciocínio lógico

Por conseguinte, essa realidade agrava significativamente a acumulação de trabalho para os docentes. Além das responsabilidades pedagógicas tradicionais (planejamento de aulas, correção de provas etc.), os professores se veem diante de:

I.Necessidade de diferenciação pedagógica constante para atender alunos com níveis de conhecimento tão díspares na mesma turma.

II.Trabalho de recuperação e reforço em que muitas vezes acontecem fora do horário de aula e sem a devida remuneração ou reconhecimento.

III.Lidar com questões sociais e emocionais que extravasam os muros da sala de aula, como a falta de estrutura familiar, problemas de saúde mental, e outros fatores que afetam o desempenho dos alunos.

IV.Burocracia excessiva com preenchimento de relatórios, participação em reuniões e outras demandas administrativas que consomem tempo precioso.

Isto posto, essa sobrecarga de trabalho leva ao esgotamento profissional, desmotivação e, em muitos casos, ao adoecimento dos professores, impactando diretamente a qualidade do ensino oferecido.

Então, se a escola pública tem a missão de ser inclusiva e oferecer oportunidades a todos, independentemente de seu histórico, por outro lado, a inserção de estudantes sem o conhecimento básico necessário para a etapa em que foram inseridos pode gerar:

a.dificuldade de aprendizado para o próprio aluno, que se sente desmotivado e incapaz de acompanhar o ritmo da turma;

b.além de prejuízo para a turma, quando o/a docente precisa dedicar-se com mais tempo e atenção a esses estudantes, o que pode desacelerar o aprendizado dos demais;

c.também a frustração docente, isto porque se veem com a responsabilidade de "recuperar" anos de defasagem em um curto período, sem as ferramentas ou o tempo adequados.

Mas, é de fundamental importância que se busquem soluções que equilibrem a inclusão com a qualidade do ensino e o bem-estar do/a(s) trabalhadores  da educação.

Algumas ações que poderiam ser consideradas incluem:

1.Programas de recuperação intensivos: Com recursos e profissionais dedicados a alunos com grande defasagem, fora do horário regular de aula e com acompanhamento individualizado.

2.Investimento em formação continuada para professores: Capacitando-os para lidar com a diversidade de níveis de aprendizado e as questões sociais que afetam os alunos.

3.Redução do número de alunos por turma: Permitindo que o professor dedique mais atenção a cada estudante.

4.Valorização da carreira docente: Com salários dignos, melhores condições de trabalho e reconhecimento profissional.

5.Revisão das políticas de progressão escolar: Buscando um equilíbrio entre a não retenção e a garantia da aprendizagem.

6.Parceria entre escola e família: Fortalecendo o papel da família no acompanhamento do desenvolvimento educacional dos filhos.

Daí que se entenda que a Escola Pública é uma das instituições fundamentais - o alicerce - da sociedade e, por isso, precisa de atenção e investimentos sérios para cumprir sua função social, que é a de formar cidadãos críticos e capacitados para a vida em sociedade e para produzir suas necessidades individuais e coletivas.

Por conseguinte, as questões levantadas aqui são um chamado importante para o debate e a busca por soluções efetivas; é o que se espera de todos os agentes públicos, e o engajamento de toda a sociedade.


*(Professor de Filosofia - Seed-Pr)












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