As Sociedades Primitivas e a Origem das Desigualdades entre os Humanos

Apoiando-se nas Ciências da Antropologia, Arqueologia, História etc., pode-se afirmar que os seres humanos primitivos, ao surgirem na face da Terra, foram os herdeiros da organização social dos primatas, seus antepassados biológicos.

Isto porque as investigações sobre a origem da espécie humana é um dos aspectos destas Ciências que mais tem avançado no conhecimento da humanidade em torno de sua organização social. Contudo, o conhecimento que possuímos é ainda fragmentado, e com certeza será muito alterado nos próximos anos, com novas descobertas.

É o que se sabe, com base nas pesquisas científicas atualizadas, que a característica básica da organização social dos primatas - nossos antepassados - era a coleta de alimentos (vegetais e pequenos animais) pelas florestas e campos. Mas, como a atividade de coleta depende da disponibilidade de alimentos na natureza, trata-se de uma sociedade muito pouco produtiva. Por isso, nessa primeira forma de organização social não poderia evoluir para além de pequenos bandos que migravam de um lugar para outro em busca de comida.

Subentende-se, a partir dessa organização primitiva, que não havia qualquer possibilidade econômica de exploração do homem pelo homem, que sequer possibilitava a existência de classes sociais. Contudo, o trabalho (de forma que todos usufruíam do seu resultado) e seus efeitos já se faziam presentes mesmo neste ambiente primitivo. Pois, ao coletarem os alimentos, esses humanos iam conhecendo a realidade, e esse conhecimento era generalizado por todos os membros do grupo.

Mas, com o tempo, esses bandos foram capazes de produzir ferramentas cada vez mais desenvolvidas e foram conhecendo cada vez melhor o ambiente em que viviam; quando indivíduos e sociedades, já naquele momento, estavam em permanente evolução.

Um dos exemplos está na descoberta recente (publicado pela Nature, em 20/09/2023)¹ da estrutura de madeira mais antiga, feita por hominídeos há pelo menos 476 mil anos, encontrada por arqueólogos no sítio das cataratas do rio Kalambo, na Zâmbia, África. Esse objeto revela que nossos parentes humanos já fabricavam esse tipo de artefato, com tecnologias, na Idade da Pedra, antes mesmo da evolução do "Homo sapiens"; que pode ter sido uma habitação - sugerindo que humanos já eram sedentários.

Essa descoberta levou os pesquisadores a concluir que esses primeiros seres humanos eram mais parecidos conosco do que se acreditava anteriormente. Isso demonstra sua capacidade de inovar e construir usando os materiais disponíveis para eles.

Daí se pode afirmar que, com o desenvolvimento das forças produtivas, os bandos de humanos puderam aumentar de tamanho e se complexificaram. E essa evolução levou à primeira grande revolução na capacidade humana de transformar a natureza: a descoberta da semente e da criação de animais.

Com o aparecimento da agricultura e da pecuária, os humanos puderam, pela primeira vez, produzir mais do que necessitavam para sobreviver, quando, nesse tempo, surgiu um excedente de produção.

E, a partir do crescimento da produção em todos os seus ramos - criação de gado, agricultura, trabalho doméstico -, dava à força de trabalho humano a capacidade de criar mais produtos do que era necessário para o seu sustento. Com isso, aumentou, ao mesmo tempo, o total diário de trabalho que competia a cada membro da comunidade doméstica ou da família isolada; quando tornou-se desejável englobar novas forças de trabalho.

Foi com a existência desse excedente que tornou economicamente possível a exploração do homem pelo homem; quando, alguém que se torna mais poderoso, consegue apropriar-se desse excedente de produção de forma privada.

Dessa forma, com o surgimento da exploração do homem pelo homem, pela primeira vez as contradições sociais se tornam antagônicas, isto é, impossíveis de serem conciliadas. E, com ela, a luta de classes, quando a classe dominante tem que explorar o trabalhador, que não deseja ser explorado.

NOTAS:

¹https://www.nature.com/articles/s41586-023-06557-9

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

ANÁLISE DO “NOVO” DECRETO Nº 8.222/2024 - GTE - COMO MAIS UMA DAS FORMAS DE INTENSIFICAÇÃO DA PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO DOCENTE

A Moral em F. Nietzsche

O SENTIDO DA PALAVRA NA LINGUAGEM PARA WITTGENSTEIN