POEMA - Estado Nacional como Servil Imperialista na Reforma Administrativa
Luiz Antonio Sypriano
Na alvorada dos anos frios de FHC,
um sopro de Washington cruzou o Atlântico.
Trazia cifras, relatórios, e promessas de eficiência:
era o evangelho do mercado rentista,
com suas páginas impressas no sangue imperialista.
O Brasil, corpo moreno e cansado,
ajoelhou-se diante do Deus FMI,
e jurou servir aos bancos,
aos papéis sem rosto,
às bolsas que tilintam como grilhões.
O Estado — outrora esperança de abrigo —
foi despido, involuntariamente
transformado em escritório mercantil,
onde o suor do povo é planilha,
e a fome, um número que se ajusta.
Vieram outros: prometeram o “novo”,
mas o velho capital vestiu novas gravatas.
Nos corredores do poder instituído,
a mais-valia dançava fulgurante
entre decretos e discursos da “modernização”.
A máquina pública, que era gente,
virou custo.
O servidor, que era serviço,
virou inimigo.
E o povo, que era sujeito,
virou consumidor de ruínas.
Ah, Brasil!
teu Estado é agora comitê dos negócios,
teu orçamento, campo de batalha
onde os rentistas colhem as flores da miséria.
Privatizam o sol, o rio, a escola,
vendem o tempo e o silêncio,
terceirizam o pão e a esperança.
E nas salas sem janelas do poder,
fala-se de “reforma”,
como se reformar fosse redimir —
mas é apenas a arte de extrair o último fôlego
da classe que trabalha,
do corpo que sustenta,
da vida que insiste.
Por isso este canto:
para lembrar que um Estado não é empresa,
que a justiça não cabe em contratos,
e que nenhum decreto pode privatizar o sonho
de quem trabalha e resiste.
Mas, enquanto houver um punho cerrado,
enquanto houver palavra e memória,
haverá também luta! —
contra o aço das reformas,
contra o império invisível do capital,
e a favor do homem e mulheres
que lutam, gloriosos,
pela emancipação e soberania
Nacional.
(Piraquara-Pr, 25/10/2025)
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