O Caos como Método de Controle Social e seus Desdobramentos na Escola Pública


*Luiz Antonio Sypriano


O Método do Caos, denominado de MC, como controle social, aplicado na estratégia de dominação, refere-se ao uso deliberado da instabilidade e da imprevisibilidade para desestabilização de um sistema ou oponente, com o intuito de tirar proveito particular da confusão resultante a fim de alcançar seus objetivos, utilizando-se de manobras e condução da massa social ou agrupamento.

Esta estratégia pode ser observada em diversos contextos, desde negociações políticas e econômicas, em sala de aula e até mesmo em conflitos militares.

Referindo-se ao estudo de caso da indisciplina em sala de aula, trata-se mais do que um simples problema de comportamento, que vem sendo utilizada como um método para dificultar o processo de ensino-aprendizagem e, consequentemente, precarizar o ensino; exercido por agentes que pretendem, consciente ou “inconscientemente”, utilizar-se da má fé com estes intuitos.

Isto porque, pela "falta de respeito" às regras coletivas, a desatenção e a desordem, geram um ambiente caótico na sala de aula, impedindo a concentração dos estudantes e a eficácia das aulas, prejudicando a qualidade do ensino. É o que se vai argumentar na sequência.

Primeiramente, se faz necessário compreender o funcionamento do MC, que se manifesta de várias maneiras. Uma delas, aponta-se, está na aplicação do caos que visa romper com a “ordem” estabelecida, criando, com isso, um ambiente de incertezas e instabilidades, quando feitos através de ações inesperadas, ameaças constantes, manipulações das informações (falks news) e, por fim, na criação de crises.

Já nas instituições e indivíduos passivos, tornam-se ainda mais vulneráveis, diante dessa situação, porque o agente que lhes aplica visa explorar essa vulnerabilidade para impor suas vontades, negociar em condições favoráveis a si ou simplesmente desmoralizar o oponente.

Mais ainda, o MC também pode ser usado para fomentar conflitos entre diferentes grupos ou facções, enfraquecendo-os e tornando-os mais suscetíveis à manipulação de um deles sobre os demais.

Por outro lado, ao se criar uma narrativa caótica e confusa, o agente pode controlar a percepção da realidade e manipular a opinião pública a seu favor, silenciando vozes contrárias e dificultando a organização de oposição, como na Teoria da Conspiração.

Alguns exemplos são notórios na utilização do MC, como os que seguem:

Quando alguns líderes e governos têm sido acusados de usar a imprevisibilidade e a ameaça como ferramentas de negociações em relações internacionais, buscam tirar vantagens sobre outros países, como o fazem o governo estadunidense, de matrizes autoritárias e totalitárias.

Em contextos de guerra civil ou revolução, o MC pode ser usado para desorganizar a resistência e promover a tomada do poder por um grupo específico.

Outro caso ocorre na especulação e na manipulação de preços, nas competições intercapitalistas, que podem gerar instabilidade no mercado financeiro em prejuízo dos mais frágeis, atuando em benefícios daqueles que controlam informações privilegiadas.

Já o MC em sala de aula, seja através da indisciplina, como na falta de recursos ou condições inadequadas de ensino, pode ter um impacto significativo no comportamento dos estudantes e na qualidade da educação pública. Isto porque a falta de controle, a desordem estabelecida e a ausência de um ambiente propício ao aprendizado podem levar à evasão escolar de quem quer estudar - e, quando não conseguem -, influem no baixo rendimento e dificuldades de socialização.

Diante dessa situação de relações perversas na Escola, os estudantes sofrem impactos no seu comportamento, como o que se verifica que:

        -dificulta a concentração e o foco, prejudicando o processo da aprendizagem;

-podem perder o interesse pela escola e apresentar comportamentos disruptivos;

-diante da falta de organização e regras pode levar a conflitos e dificuldades de relacionamentos;

-o agravo do estresse e a ansiedade causados pelo ambiente caótico, afetando a saúde mental dos estudantes e docentes; dentre outros.

Como se não bastassem esses todos prejuízos sofridos pelos estudantes - e docentes -, pelos impactos desse MC -, que prejudica a qualidade da educação -, devido a falta de um ambiente adequado de aprendizado, que promove a queda no desempenho dos alunos, deixando-os frustrados, há o agravamento de os levarem à abandonar os estudos, pelo excesso de bagunças e desorganização na sala de aula.

Nesse contexto, encontra-se a Escola com falta de estrutura e organização, que leva à percepção de que ela não é um lugar seguro e acolhedor. Mas, mesmo fragilizada, é importante afirmar que a Escola, além de transmitir conhecimentos, tem um papel fundamental na formação de cidadãos críticos e participativos. No entanto, o caos compromete essa função, dificultando a formação de indivíduos preparados para a vida em sociedade, mas forjados na ideologia do individualismo exacerbado e egoísta.

Como dito, há uma influência no ensino escolar, de forma precarizada, pelo impacto da indisciplina; pois, a falta da disciplina impede que o professor consiga transmitir o conteúdo de forma clara e organizada, ou seja, em implementar o seu Plano de Aula, pelo fato de que a atenção dos alunos é constantemente interrompida.
Além do que, quando a sala de aula se torna um ambiente de caos, os alunos perdem o foco e a capacidade de absorver o conteúdo, o que leva a um baixo desempenho e dificuldades de aprendizagem, levando a desmotivar tanto os alunos quanto docentes, criando um ciclo negativo que prejudica o ambiente escolar como um todo, levando os bons estudantes à exclusão da escola, a sua transferência ou remanejamento. Isto porque o desrespeito e a desordem geram conflitos e situações de violências, aumentando o nível de estresse para com toda a comunidade escolar, o que impacta negativamente a qualidade do ensino.

Diante da situação inusitada do MC como estratégia para o controle social, será preciso entender as suas limitações diante das críticas, quais sejam:

Que o uso do caos como estratégia envolve riscos significativos, pois pode gerar consequências não intencionais e difíceis de controlar, isto porque a instabilidade criada pode se voltar contra quem a provocou; além do que a  aplicação do caos pode levar à destruição de instituições e laços sociais, causando danos duradouros à sociedade. Isto posto, a utilização deliberada do caos para dominação levanta questões éticas importantes sobre o uso do poder e a manipulação de vidas humanas.

Trazemos, contudo, algumas soluções possíveis; assim, para combater a indisciplina e melhorar o ambiente escolar, é necessário um esforço conjunto da Escola, dos professores, dos alunos e das famílias, com foco na criação de um ambiente acolhedor, na utilização de metodologias ativas e na promoção da educação socioemocional.

Como é fundamental que a Escola e o professor definam regras claras e objetivas para o bom comportamento em sala de aula, garantindo que todos os alunos as conheçam e as respeitem, e que pode ajudar a reduzir a desordem e o estresse coletivo.

Também é importante que o professor crie um ambiente seguro e acolhedor, onde os alunos se sintam à vontade para participar e expressar suas opiniões, evitando o medo e a intimidação.

Além de reduzir as desigualdades sociais e garantir o acesso a oportunidades para todos os alunos, é importante que os professores recebam formação continuada para lidar com a indisciplina, aprendendo estratégias de gestão da sala de aula e resolução de conflitos. 

Porque a utilização de metodologias ativas, que partam da realidade local, como atividades dinâmicas e projetos, podem ajudar a manter os estudantes engajados e interessados no conteúdo, quando se terá a possibilidade de reduzir a chance de indisciplina.

Uma vez que a educação socioemocional pode ajudar, também, estudantes a desenvolver habilidades de autogestão, empatia e resolução de conflitos, o que contribui para um ambiente escolar mais positivo.

Outro aspecto importante será o desenvolvimento de ações que promovam a participação dos pais e da comunidade na vida escolar, para fortalecer o vínculo entre escola, família e sociedade. Assim, a participação da família no processo educacional é fundamental para auxiliar na criação de hábitos e valores que promovam a disciplina e o respeito.

Por fim, a MC, embora possa parecer eficaz a curto prazo, carrega consigo riscos e consequências negativas que podem prejudicar tanto o dominador quanto o dominado. Devido à essas consequências, a aplicação dessa estratégia deve ser cuidadosamente avaliada, considerando seus impactos éticos e sociais, como a indisciplina e a desorganização em sala de aula, em situações escolares.


*(Professor de Filosofia da Seed-Pr)

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