A Metafísica de Aristóteles enquanto Filosofia da Ciência
*Luiz Antonio Sypriano
“Minha Academia se compõe de duas partes: o corpo dos estudantes e o cérebro de Aristóteles”. (Platão)
Aristóteles (384-322 a.C.) foi, com Platão (428-347 a.C.), o grande pensador da Antiguidade Grega, junto com o seu mestre fundamentaram a cultura ocidental.
O que se pode dizer de Aristóteles é que era Macedônico, pai médico (da Corte da realeza), da cidade de Estagira. Sabe-se que desde muito jovem já se mostrava alguém com inteligência avançada, devido a sua dedicação aos estudos; por isso, vai para Atenas, na Academia de Platão, aos 17, ficando por quase 20 anos, quando deixou-a para viver na Ásia Menor, na corte do Imperador da Macedônia, Felipe II, como preceptor de Alexandre (toda a adolescência), por 16 anos.
Posteriormente, Aristóteles retorna à Atenas e funda o Liceu, sob o patrocínio de Alexandre o Grande (356-323 a.C.). Será nessa Escola que Aristóteles irá escrever suas obras, anotadas pelos estudantes, como conhecimento filosófico esotérico, restrito, como a Metafísica, Órganon, A Física, A Ética a Nicômaco e A Política.
Por conseguinte, Aristóteles foi o grande pensador que sistematizou os conhecimentos até então existentes no Século IV a.C., afirmando que corrigiria todas as ideias até então divulgadas; que, para nós, proporcionam as bases das ciências; que, na sua concepção de Mundo, é povoado de seres imperfeitos que buscam, através do Movimento, a Natureza Perfeita.
Este estudo irá tratar sobre a Metafísica em Aristóteles, que é a parte da Filosofia que irá investigar a causa da existência de todas as coisas. Nela vai partir da respostas à aporia entre Parmênides (510-445 a.C.), para quem o Ser é tudo o que existe, assim, “O ser é e o não ser não é”, defendendo a teoria da imobilidade e Heráclito (500-450 a.C.), que traz o conceito de devir, que “Tudo flui” e “Nada é permanente, exceto a mudança”. Portanto, Aristóteles irá na defesa oposta, a da mudança; quando afirma que os dois pensadores estão errados.
Da mesma forma que Aristóteles vai se contrapor à Teoria das Ideias, de seu mestre Platão, cuja Teoria Dualista trata do Mundo Sensível, ilusório, e do Mundo das Ideia, no qual existem as verdades eternas.
Mesmo sendo crítico de seu mestre, Aristóteles é o seu continuador, quando vai explicar a realidade em conceitos supra sensíveis, ou seja, ideias; e afirma que o mundo material é o real - opondo-se à Platão, que afirmara ser falso -, com a possibilidade do conhecimento, através dos nossos sentidos.
Segundo Aristóteles, por meio de nossa percepção nós temos sensações, que nos trazem experiências; delas que o nosso intelecto vai produzir conhecimentos,, abstraindo aquilo que é universal nas várias manifestações diferentes de um determinado fenômeno ou objeto, quando se formará os Conceitos; e a partir deles é que somente se poderá produzir Ciências.
Para Aristóteles, a Ciência é o conhecimento verdadeiro do Mundo, que se trata de conhecer as causas dos fenômenos. Para tanto, sistematizou-a em três grandes áreas:
1ª.Teoréticas ou contemplativas: que investigam os objetivos que independem do homem:
a.Metafísica ou Filosofia Primeira: a investigação dos primeiros princípios do fundamento último da realidade, do universo, ou seja, do fundamento de todas as coisas que existem.
b.Matemática: que estuda os números e as formas geométricas.
c.Física ou a Filosofia Segunda: que vai estudar o devir, os objetos particulares que constituem este nosso mundo sensível.
2ª.Práticas: que investigam os objetos que dependem da ação humana, ou seja, a melhor forma de viver e a melhor maneira de atingirmos a perfeição moral:
a.Ética:
b.Política
3ª.Poéticas ou produtivas: que investigam os objetos que dependem das ações do homem, na medida em que esses objetos servem - têm uma utilidade prática - para os homens, no seu cotidiano, terem uma vida melhor:
a.Agricultura:
b.Medicina:
c.Cavalaria:
d.Arquitetura:
e.Engenharia:
f.Navegação:
Ao construir a definição de Ciência, como o conhecimento das causas, Aristóteles busca superar as meras opiniões e, com isso, compreender o movimento das coisas na sua essência e aparência; e, por conseguinte, resolver a aporia entre Heráclito e Parmênides e, também, superar a dualidade platônica.
Mas, para se contrapor a todas essas concepções filosóficas, Aristóteles irá construir todo um arcabouço teórico conceitual novo.
Parte da afirmação de que a mudança ou o devir são a maneira pela qual a Natureza, ao seu modo, se aperfeiçoa e busca imitar a perfeição do imutável divino, o Primeiro Motor Imóvel - porque não se move e não é movido por nenhum outro ente.
Nos aponta, contudo, que tudo o que existe é Substância, que identifica todos os seres, e que estes possuem dois atributos: Essência e Acidente. Enquanto o primeiro caracteriza-se por aquilo que a Substância é, enquanto o segundo são as diversidades da Substância do Ser, que existe sem alterar a sua essência, do que É. Por exemplo, o Homem, que possui a sua essência de ser racional, consciente, alma (psique) - em todos -, independentemente de serem branco, preto, amarelo, pardo ou alto, gordo, baixo etc. - que são atributos acidentais -, por isso não deixarão que o Homem seja Homem; porque a sua essência é o que permanece!
Na sequência, toda a Substância possui Matéria e Forma. Mas, como o mundo não é estático -, está em Movimento -, tem-se que a Substância se constitui, também, por Ato e Potência.
Pode-se afirmar que a Matéria é o elemento de que as coisas da Natureza, os animais, os homens etc. são feitos. Enquanto a Forma é o que individualiza e determina uma Matéria, fazendo existir as coisas ou os seres particulares.
Como já dito que o mundo é Devir, por isso a Substância possui Potência e Ato; enquanto a primeira é o que está contido numa Matéria e pode vir a existir, se for atualizado por alguma Causa Eficiente, e sua principal característica é ser aquilo que uma Essência é num determinado momento, pois a Forma é o que atualiza as virtualidades contidas na Matéria; já a segunda é a atualidade de uma Matéria, isto é, sua forma num dado instante do tempo, sendo a Forma que atualizou uma Potência contida na Matéria.
Assim, para Aristóteles, todos os seres que existem no Mundo sofrem influências de quatro Causas, que significa não só o porquê de alguma coisa, mas também o o que e o como uma coisa é o que ela É. As Causa Primeiras, como diria, nos dizem o que é, como é, por que é e para que é uma Essência.
Portanto, são quatro essas Causas Primeiras:
1.Material: aquilo de que uma Essência é feita, sua matéria (por exemplo, água, fogo, ar, terra).
2.Formal: aquilo que explica a forma que uma Essência possui (por exemplo, o rio ou mar são formas de água; mesa é a forma assumida pela madeira com ação do carpinteiro etc.).
3.Eficiente ou Motriz: aquilo que explica como uma Matéria recebeu uma Forma para constituir uma Essência (por exemplo, o ato sexual é a Causa Eficiente que a faz a Matéria do espermatozóide e do óvulo receber a forma de um novo animal ou de uma criança etc.)
4.Final: é a Causa que dá o motivo, a razão ou a finalidade para alguma coisa existir e ser como ela é (por exemplo, o bem comum é a causa final da Política, a Felicidade é a Causa Final da ação Ética etc.
Devido aos seres do Mundo serem imperfeitos, é porque buscam no movimento alcançar a sua perfeição, à sua essência; que está no Primeiro Motor Imóvel, o do ser divino, a realidade primeira e suprema, o Ato Puro, o Pensamento do Pensamento, que todo o restante dos seres procuram aproximar-se, imitando sua perfeição imutável.
Isto porque as coisas se transformam, essas desejam encontrar sua essência total e perfeita, imutável na essência divina, que é aquilo que, sem agir diretamente sobre as coisas, ficando à distância delas, as atrai, é desejado por elas.
Por conseguinte, tal desejo as faz mudar para, um dia, não mais mudar (esse desejo, segundo Aristóteles, é que explica por que o devir e por que o devir é eterno, pois as naturais nunca poderão alcançar o que desejam, isto é, a perfeição imutável).
Hoje, em pleno Século XXI, permanece a mesma definição de Ciência, que é o conhecer a causa do fenômeno; no sentido de entender o porquê determinado fenômeno acontece, já criado por Aristóteles, no Século IV a.C.
Isto porque a Ciência, ao superar as opiniões do senso comum, nos reporta ao conhecimento verdadeiro da realidade.
Pode-se dizer, por fim, que a Metafísica é o estudo, a Ciência que busca o conhecimento das estruturas da realidade.
Não é, como se trata na mídia e no senso comum, de uma ficção ou de fenômenos sobrenaturais.
Sendo assim, a Filosofia contribui enormemente para o conhecimento científico, desenvolvendo o pensamento crítico, para a compreensão da realidade em toda a sua totalidade.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Aristóteles. Metafísica. Disponível em: <https://www.ifch.unicamp.br/publicacoes/pf-publicacoes/cf-15_pronto.pdf>; Acesso em: <20/10/2024>.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. Ed. 7. São Paulo:Ed. Ática, 2000. Disponível em: <https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/502947/mod_resource/content/1/ENP_155/Referencias/Convitea-Filosofia.pdf>; Acesso em: <20/10/2024>.
Filosofia Total. Aristóteles: Metafísica. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=WGk1Ag-373g>; Acesso em: <19/10/2024>.
Isto não é Filosofia. O que é Metafísica. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=8h5nj6Zd9t8>; Acesso em: <20/10/2024>.
*(Professor de Filosofia da Seed-Pr)
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